No ano de 1996, comprei uma revista "400 jogos para windows" em uma banca próxima da minha casa, eu tinha acabado de ganhar meu primeiro computador, um pentium 100 com 1 giga de hd e estava avido por rodar joguinhos no pc. É bom lembrar que o acesso a internet era uma coisa cara e rara na época, além de ocupar a linha fixa de telefone, era lenta e cobrada por minutos conectados, logo, usar a internet para qualquer coisa que não fosse apenas ler sites, era uma tarefa para quem tinha dinheiro e paciência.
A forma mais comum de ter acesso a conteúdo multimida era mesmo comprando revistas nas bancas, foi a época de ouro da Revista do CD-ROM, PC gamer, CD Expert, etc...
A revista "400 jogos para windows" iludia o usuário gamer, pois apesar de realmente possuir 400 jogos, 99% deles eram extremamente ruins, coisa do tipo, "bata com o martelo na cabeça do esquilo", "atire no máximo de patinhos voadores", "ajude o sapinho a atravessar a rua sem ser atropelado", etc... Uma verdadeira coletânea de jogos idiotas que fariam sucesso sim, no atari.
Mas um deles eu me lembro com muito carinho, era o jogo Castle of the Winds, um joguinho onde o personagem principal era um sósia do He-Man sem as pernas, que empunhando uma espada, explorava calabouços e enfrentava os monstros mais temidos do mundo, todos eles desenhados no paint. Brincadeiras a parte, o jogo era muito tosco, mas muito bom, viciei muito nele e só parei depois de zerar, após muita dedicação e determinação. Lógico que gostei tanto da mecânica, que após fechar, comecei a pesquisar sobre outros jogos parecidos e descobri que se tratava de um estilo de jogo, conhecido como Roguelike.
O roguelike é um gênero do RPG, é caracterizado por apresentar mapas, monstros, itens, de forma aleatória cada vez que se inicia um novo jogo, outro fato interessante é a morte permanente, ou seja, se morrer já era, não adianta chorar, nem chamar a mãe, você vai ter que começar tudo de novo, o que deixa o jogo extremamente tenso, onde é preciso calcular cada passo dado.
Este estilo de jogo teve inicio nos anos 80, com o game rogue, que não possuia gráficos e sim letras ASCII, o personagem principal era uma "@" e os monstros representados por sua inicial, o Dragão por exemplo era representado pela letra "D".
Rogue para PC |
Faz muito tempo que o estilo roguelike foi esquecido, atualmente só vemos variantes, como os hack and slash representados pelas franquias Diablo, Titan Quest, Dungeon Siege, etc...
Então ontem, navegando pelo catalogo de jogos do steam, percebi que tinha um game que tinha como foco, a mecânica de jogo roguelike e não pensei duas vezes antes de comprar, o problema disso é que só fui dormir 3 horas da manhã preso na frente da tela do pc. Dungeons of Dreadmor resgatou o mesmo sentimento que tinha quando jogava Castle of the Winds e estou muito feliz e confiante que através dele, quem sabe não podemos ver mais jogos do gênero roguelike no mercado.
Vamos falar do jogo, das suas qualidades e também da pisada na bola que ele dá. Primeiro aspecto quando iniciamos o game, é escolher a dificuldade e se desejamos jogar com morte permanente. Aqui temos o primeiro ponto forte do jogo. Resgatar a morte permanente foi uma boa sacada, o old gamer neste momento agradece, faltam jogos atuais com esta opção.
As dificuldades estão balanceadas de forma justa, o nível de diversão acontece normalmente seja o jogador um player mais casual ou um mais hardcore.
A segunda parte é a escolha das skills, outro ponto forte do jogo. No inicio se tem o direito de escolher 7 skills, e essas skills serão desenvolvidas no desenrolar do game. Podemos dizer que aqui é a parte mais importante do jogo, já que a build do personagem feita de forma incorreta, acaba com as chances de ir longe no game.
Terceira parte é escolher o nome, agora estamos preparados para iniciar a jogatina.
Explorar os calabouços é muito divertido, eles estão cheios de monstros, armadilhas e itens para serem coletados. Os gráficos estão bem legais, o personagem principal se move, ataca, recebe danos e é atingidos pelas armadilhas. Já os monstros é um ponto negativo do jogo, não pela dificuldade ou variedade e sim pela caracterização, enfrentar monstrinhos coloridos, sem um tema definido é muito ruim e acredito que foi a unica mancada da Gaslamp (produtora do game.)
Eles são uma mescla de passarinhos coloridos, gosmas, tamagochi, lulas, e até monstros mascarados.
Acredito que a decisão de usar monstros neste estilo, foi a premissa de humor que eles decidiram por no game, eu sou contra, acredito que o humor utilizado nos textos, falas dos monstros e até nas mensagens como por exemplo quando o personagem morre, e na tela aparece "Congratulations! You have Died" é um tipo de humor muito mais interessante do que trocar os tradicionais monstros dos jogos com temática fantasia medieval por monstrinhos coloridos que mais parecem exportados do desenho animado pokemon.
Já os itens, equipamentos e armas estão bem produzidos, bem variados também, assim como um jogo do gênero roguelike pede. Usando-os percebemos um UP no personagem e isso incentiva o jogador a explorar cada aposento das masmorras atrás de mais e mais itens.
Os efeitos sonoros são muito bons, as musicas enjoam um pouco, mas não compromete, afinal tem o botão de volume, assim podemos abaixar a música do game e explorar o jogo ouvindo mp3 (assim como a maioria dos players que jogam roguelike faz).
Dungeons of Dreadmor foi uma grata surpresa este ano, apesar dos poucos pontos negativos é divertido ao extremo e vale cada centavo. Eu não esperava um game tão puramente roguelike em meados de 2011.
Até a data da publicação deste post, ele estava sendo vendido por U$ 4,99 no steam, menos que R$ 10,00. Isso não é nem o preço do combo de um salgado e um refrigerante. Além de que, comprar o jogo original pode incentivar os produtores a lançar mais jogos deste gênero. O que é uma vitoria para nós, que somos bombardeados todo ano com porcarias de todo tipo custando o olho da cara.
Site Oficial: http://www.dungeonsofdredmor.com/
Nota do Jogo: 8,00
Valor: U$ 4,99